Angela Leite - 1989

Jaguatirica

Jaguatirica (Felis pardalis)


Podendo escolher vive mesmo em terra firme do norte da Argentina ao sul do Texas. Em matéria de habitat exige apenas a presença de árvores, sejam elas das florestas úmidas tropicais, matas costeiras, savanas pantanosas e áridas. Acuada, enfrenta a travessia de rios ou salta de uma copa a outra. Espremida em faixas de mata empobrecidas de presas, compete com os homens pela carne dos animais de criação. Não resiste a um atraente galinheiro, onde é vítima fácil de armadilha. Aprecia um cardápio variado de aves, ovos e ninhegos; cabras, catitus, macacos, cutias e coelhos; peixes, cobras e até ouriços quando a fome aperta. E qualquer roedor que se apresente, como manda o figurino dos gatos.

São seus parentes próximos no Brasil os diversos “gatos-do-mato” que não ultrapassam em tamanho os bichanos domésticos, ao passo que sua congênere chega a um metro de comprimento. Mantendo os padrões uniformes dos felinos, válidos para o mais possante tigre siberiano ao mais dengoso gato angorá, a jaguatirica é bicho solitário e territorial, caçador de emboscada e golpe fatal. A gestação é de setenta dias, sendo duas crias o mais freqüente; a amamentação é breve e cabe à mãe treinar a prole na dura labuta para obter comida, água e abrigo. A corte é prolongada, nos moldes das familiares cenas de telhado e o casal se afasta depois do encontro. Podem dividir um mesmo território mas não compartilham nem mesmo as situações de perigo.

Subsiste, em número reduzido, em toda a sua área de distribuição original. Cotada como animal de estimação, atormenta o dono com suas andanças noturnas ou devorando-lhe os animais caseiros. Sua linda pelagem dourada, estriada de faixas e pintas negras, cuidadosamente lambida no trato diário, embora eficiente ao camuflá-la na mata, é o que mais lhe compromete a sobrevivência.

Dez anos depois que nosso país proibiu sua exportação, 75.262 peles de gatos-pintados escoaram-lhe em 1977. Entre 1965 e 1969 cerca de 200.000 foram importadas pelos EUA e Europa. No Japão, casacos de jaguatirica foram flagrados à venda por US$30.000 em 1981. Especialistas classificam-na ora entre os animais “vulneráveis”, ora entre os “ameaçados de extinção”, segundo levantamentos regionais.

Atualmente estima-se um contrabando anual de 30.000 peles de F. pardalis para enfeitar dondocas que melhor se dariam “entrando na pele” de uma delas, como autênticas “gatas de estimação”.

* Dados fornecidos por Cori Teixeira de Carvalho